segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Não menos importante do que a forma como eu descobri que eu estava com câncer, foi a forma como os meus pais descobriram. Depois de ouvir depoimentos das pessoas envolvidas, eu vou contar um pouquinho pra vocês do que se passava nos bastidores. Antes disso, gostaria de avisar à vocês, que vou omitir o nome de alguns "profissionais" que nós tivemos problemas... Vou divulgar apenas aqueles que são "de verdade" e tem compromisso com a profissão que exercem, e que foram anjos durante o meu tratamento. Todos aqueles que nos causaram algum mal, eu prefiro não citar. Aqueles que tiverem passando por algum problema semelhante e se interessar em saber quem são essas pessoas, é só entrar em contato comigo.

Meus pais têm uma loja de informática, que mais parece um formigueiro, lá acontece de tudo um pouco, de reuniões dos amigos do baba do fim de semana para montar o time à venda de maquiagens e é fácil surtar em uma tarde movimentada. Numa dessas tardes, o telefone que nunca para, toca mais uma vez e a atendente que fala pausadamente pede para falar com minha mãe. "Gostaria de falar com a Sra. Elílian... Sra. Elílian, o Dr. Dinossauro gostaria de falar com a senhora e o seu esposo sobre os exames de Rebecca Macêdo." O sangue fugiu das pernas, as mãos suaram e ficaram geladas... Porque bom (ou mal) motivo gostariam de falar pessoalmente sobre os meus exames? Quando os laudos saem, não temos apenas que buscar os resultados? A tarde demorou para terminar, e o botão do automático foi ligado. Formatações e manutenções já não prendiam a sua atenção.
Nove anos antes do incidente, quando eu fazia a 6ª série, estava na casa de Maria Fernanda quando uma amiga nos enviou um desses vídeos de susto, onde aparece uma imagem bizarra acompanhada de um grito alto. Estávamos mexendo no computador com a luz apagada e ao tomar o susto, tentamos levantar e sair correndo, mas a minha cadeira ficou presa na perna da mesa, e eu acabei caindo de lado, em cima do meu braço, o mesmo que agora eu sentia dores. Nanda gritava pra eu levantar, o barulho do computador não cessava, não conseguia enxergar nada e não consegui levantar de dor. Depois de uma segunda tentativa, enxerguei a cara de pânico de Nanda, quando eu me levantei e o meu braço ficou "pendurado". Nanda sempre teve pavor de machucados, ela tampava os olhos e gritava "corre amiga! vamos descer e falar com Ceiça! Ceiçaaaa! Ajuda aquiiii!" Descemos as escadas e corremos para a cozinha onde encontramos Ceiça preocupada com a nossa histeria.Depois de muita confusão e gritaria, amarramos uma fralda como tipoia e eu liguei para os meus pais que foram correndo me buscar para levar ao médico. Já eram 20:40 quando chegamos ao hospital, e depois de esperar um tempo na sala de espera, fomos direcionados ao Dr. Dinossauro (vou chamá-lo assim, por suas técnicas e conhecimentos pre-históricos) que pediu um raio-x para saber o que havia acontecido. Depois do exame realizado, voltamos a sala do Dr. Dino, que nos informou que não houve nada muito grave, foi apenas uma pequena luxação, e só seria necessário o uso de uma tipoia durante 45 dias. Mesmo não havendo nenhum problema aparente, ele pediu que realizássemos uma ressonância, para ver se estava tudo realmente bem. Na época eu não tinha plano de saúde e o exame custava R$ 980,00, uma médica amiga da família, nos orientou a não fazer o exame, pois seria desnecessário e o custo era muito elevado. Depois de 20 dias com a tipóia, a dor sumiu e completados os 45 dias, eu já conseguia movimenta-lo perfeitamente. Não fizemos o exame e Nanda deu um sermão na menina que enviou o susto.

Meus pais fecharam a loja e se dirigiram ao hospital que fica à umas 3 ou 4 quadras de distância, para falarem então com o Dr. Dino, eles não fazia ideia do iriam ouvir. Ao entrar na sala encontraram o Dr. Dino com uma feição séria, tentando parecer preocupado. Antes de qualquer esclarecimento, ele começou o discurso falando "Vocês têm fé em alguma coisa? Porque é melhor que tenham."  Que tipo de médico da uma notícia com essa introdução tão delicada? Acho que ele demorou o dia inteiro pensando em como ser sutil com a minha família. E continuou "O exame de ressonância da sua filha acusou um tumor no braço, pelo que eu analisei, é um tumor maligno, tem as características de um osteossarcoma, e o tratamento para esse tipo de tumor é amputação radical de membro, tem que desarticular." Lembrando que o Dr. Dino é ortopedista e não possui nenhuma especialização em oncologia, e esse super diagnóstico foi feito sem nenhum tipo de biópsia. É o super Dr. Dino, especialista em confortar famílias, obrigada Dr. Dino! Depois dessas informações, ele falou mais um monte de coisas, mas minha mãe não conseguiu ouvir mais nada, só via a sua boca mexendo sem conseguir absorver mais nenhuma informação, meu pai também não esboçava nenhuma reação, acho que o cérebro demora para processar esse tipo de coisa.

Eles saíram do médico e não tinham condições de ir para casa e olhar para mim sem fingir que nada aconteceu. Dirigiram em silêncio de volta para a loja, entraram e ficaram lá por um bom tempo. Se abraçaram e choraram sem acreditar no tinham ouvido. Quantos medos e incertezas passaram por suas cabeças, a sensação de impotência, quantos sonhos não seriam interrompidos, como eu iria reagir? Meu pai estava inconsolável quando sussurrou para minha mãe "Como minha filha vai casar? Onde vai colocar a aliança?" Todas as coisas pequenas agora tinham muito valor e eles pareciam engolidos por todas elas.





Os melhores que alguém poderia ter, que não fraquejaram e nem me deixaram fraquejar em nenhum momento.












Beijos, Rebecca.

sábado, 3 de maio de 2014
Bom, era aquilo. Até então eu tinha dores, dúvidas e incertezas, e depois de ler 3 palavras eu tinha câncer.
Como 3 pequenas palavras podem mudar uma situação? Dormi sem câncer e acordei com ele. Silencioso e sorrateiro, chegou sem que eu percebesse e fez festa em mim... e agora nós tínhamos que acertar as contas.

Eu fiquei em choque. "E agora? O que eu faço?"  E então eu chorei, chorei e solucei abraçada com Yuri dentro do carro e ele não me mandou parar. Ele só ficou quietinho e fez eu me sentir protegida... Ele não disse nada, mas me fez entender que estaria por perto e que eu não ficaria sozinha.
Ficamos um tempo parados na frente do laboratório e eu não sabia bem porque eu estava chorando. Mas não é isso que as pessoas que estão com câncer fazem? Elas choram... certo? Errado! E então eu parei de chorar. Eu não tinha motivo pra aquilo. Eu não estava morrendo e nem estava com medo de morrer, minhas dores não pioraram porque eu li aquele papel e afinal de contas, eu nem sabia o que eu tinha de verdade, ninguém me ensinou a ter câncer, eu que teria que decidir como seria.
Eu tinha dois caminhos: ter pena de mim ou ser uma super batalhadora e lutar bravamente contra o câncer... Não escolhi nenhum dos dois...eu escolhi continuar vivendo... um dia de cada vez. Escolhi continuar fazendo planos, continuar falando besteira, continuar dando risada, continuar vendo meus amigos, continuar comendo o que eu gosto, apenas continuar... assim com reticências, sem pontos e nem vírgulas. Eu dei um ponto em outras coisas, como minha faculdade de Fisioterapia, mas não na minha vida.

Até então eu nunca tinha tido contato com o câncer de perto. Apenas um caso na família, da minha tia Eliana, mas ela não chegou nem a perder os cabelos e ela sempre foi tão alto astral, que pra mim nunca esteve doente. Câncer era aquela doença dos Carecas. E esses Carecas faziam quimioterapia. Era tudo o que eu sabia. Era uma realidade muito distante de mim, eu imagino que seja como morar fora de casa ou ser mãe pela primeira vez, você sabe que vai ser difícil, mas não tem como mensurar por tudo que você vai passar até que seja você o personagem principal. A única e grande diferença é que ninguém acha que vai morrer porque vai morar longe ou por ter filhos.

Eu costumo dizer que uma das piores partes de todo o processo do câncer, é o início. Você não sabe como lidar e no meu caso, a demora no diagnóstico potencializou todo tipo de aflição que poderíamos ter. Na verdade, a aflição era só por parte dos meus pais e de Yuri, mas eles disfarçavam muito bem. Eu não estava importando muito, só queria me livrar daquela dor e saber o que estava rolando dentro das minhas Células Egocêntricas.

O "estar com câncer" é uma ocasião, digamos, peculiar. Eu li aquelas palavras, mas eu ainda era a mesma Rebecca. Meus cabelos não caíram imediatamente, eu não vomitava pelos cantos e eu ainda me sentia "muito bem". É claro que esses efeitos eram consequência do tratamento que eu ainda não havia começado, mas essa era mais uma das minhas novas dúvidas: "Quando eu vou me tornar uma Careca?" 
Nesse momento eu me senti tão serena, que eu descobri que não tinha medo de perder os cabelos.

Depois de ler o resultado eu e Yuri fomos até a loja dos meus pais, pra que a gente pudesse compartilhar da notícia, agora que a principal interessada também já sabia. Nós paramos na esquina movimentada da Coronel Gugé e Yuri buzinou pra que eles viessem até o carro. Minha mãe veio até o carro aflita, imagino que ela não sabia qual tipo de reação eu teria, se ela encontraria uma Rebecca desesperada ou não. Ela encontrou uma Rebecca calma, plena, como se nada estivesse acontecido. Eu no lugar dela teria ficado mais aflita ainda "Essa menina deve ta doida, ou a ficha não caiu."

"- Mãe, eu vou ficar careeeca!"
A gente riu, e eu tinha certeza que íamos passar por isso juntos.




Beijos, Rebecca.
quinta-feira, 10 de abril de 2014

Já haviam se passado 3 meses desde que apareceram os primeiros sinais de que havia algo errado comigo. E até então eu não sabia o que era de fato. Eu fui a "traída"... a última a saber. Foi uma traição do bem por parte dos meus pais e do meu namorado, porque eles não sabiam como eu ia encarar a situação, já que eu sou muito dengosa e bem geniosa às vezes.
O laboratório de análises clínicas de Salvador, para onde foi enviado o segundo bloco para análise da biópsia nos deu um prazo mínimo de 25 dias para entrega do resultado, e desde então todas as tardes eu ligava para minha mãe no trabalho em busca de respostas. "E ai mãe, ligou pra lá?!" "Mamy, e aí, o resultado chegou?" "Mãe, o que eles falaram? Qual a previsão?" "Mãe!! Não esquece de ligar pro laboratório!" Uma repetição digna de uma criança de 5 anos no banco do fundo de um carro disparando um "E aí, já chegamos? E agora? Já chegamos?". Coitada da minha mãe...
E a resposta dela era sempre a mesma: "Ainda não Becca, nenhum resultado... essas coisas demoram assim mesmo filha..."

Até que um dia em uma dessas ligações a resposta foi diferente, finalmente o resultado havia chegado. Eu já estava cansada de sentir tantas dores e de esperar por respostas que nunca vinham, que nunca me contavam. Liguei para minha mãe e ao invés de incorporar criança repetitiva, avisei que eu iria ao laboratório buscar o resultado. Eu queria pegar aquele papel e ler qual era a minha sorte afinal. O que pode ser de tão ruim? Minha mãe disse que não, que não era necessário, que ao sair do trabalho ela buscaria o laudo e levaria para casa, mas eu não suportava esperar até a noite, nem mais uma tarde, nem mais um segundo.
Vesti o único vestido floridinho que eu conseguia vestir sozinha e pedi à Yuri que me levasse até o laboratório. Acho que ele pensou em relutar, mas desistiu logo em seguida, acredito que ele não aguentava mais guardar aquele segredo.

Entramos no carro e ele dirigiu devagarzinho, eu não aguentava a trepidação forte do carro. Eu não senti medo no percurso, não me lembro de ter sentido o estômago embrulhar, nem as mãos suarem. Ele parou na porta do laboratório e nós descemos. Passamos pelas grades e entramos na recepção, o balcão ficava no meio da sala e atrás dele estavam duas moças uniformizadas com lencinhos no pescoço e com cara de "Eu odeio me maquiar para trabalhar". Solicitei o exame, entreguei meu documento e me sentei com Yuri nas cadeiras brancas da sala de espera, junto à outras pessoas que também estavam a espera de seus exames, a maioria delas, pessoas de idade. "Sra. Rebecca Macêdo!" e eu sai de lá com um envelope branquinho nas mãos... ele parecia tão inofensivo.

Entramos no carro novamente, Yuri não esboçou nenhuma reação. Só olhava pra mim, aflito, enquanto meus dedos arrancavam o adesivo e desdobravam a folha de papel. Ele já sabia a resposta da minha pergunta.

Desdobrei o papel e meus olhos correram pela folha cheia daquela linguagem técnica, que não me diziam nada. Até que no fim dela estava escrito o meu segredo:

Conclusão: Neoplasia maligna indiferenciada (tumor ósseo)





Beijos, Rebecca.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Hoje, no dia 04 de fevereiro é celebrado o O Dia Mundial do Câncer.

A data tem como objetivo chamar a atenção das nações, líderes governamentais, gestores de saúde e do público em geral para o crescimento o câncer que atingiu proporções catastróficas no mundo, tornando-se uma ameaça às futuras gerações.

Para celebrar esse dia tão importante, vou postar o prometido e suuuper atrasado vídeo da entrevista que eu dei para o Bahia Meio Dia, da TV Sudoeste no dia 20 de setembro de 2013. (Fiquei com preguiça de editar o vídeo e ele demora um pouquinho para começar.)






Espero que gostem e que ele possa iluminar um pouquinho o coração daqueles que estão desanimados, aflitos e não acreditam que nós podemos renascer! Deus sempre nos carrega no colo, não deixe de confiar.

P.S.: Quando vi o vídeo hoje não acreditei o tantoooo que o meu cabelo cresceu e o quanto eu tava uma bolinha! rs Tomei um susto! As coisas sempre mudam e graças à Deus tem sido pra melhor. :D

O vídeo também está disponível no Youtube, no link: 

Entrevista para TV Sudoeste - Superando o câncer.


Beijos, Rebecca. 



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Eu voltei!
E poderia ficar aqui por horas justificando meu sumiço, mas eu só vou voltar a contar minha novelinha e vou tentar não abandonar mais o blog. E pra compensar minha fuga, vou contar um pedação ainda essa semana. :D

Acho que me esqueci de contar, mas no meio de toda a confusão que eu me encontrava, eu e Yuri fizemos 1 ano de namoro.
Eu sou dessas que planeja jantarzinho à luz de velas, cartinhas e coisas bonitas, mas meus planos foram por água abaixo vários dias antes, quando eu entrei na rotina de pijamas, remédios, cabelos embaraçados, dores e um pouquinho (eu juro) de dengo.
Nós estávamos deitados no sofá, quando eu, sedada de analgésicos, me desculpei por não podermos comemorar a nossa data. Eu realmente me sentia culpada... A gente merecia comemorar, poxa! Foi um ano tão bacana. Mas enfim...aqueles olhinhos apenas me diziam "Isso não tem importância, amor... O que importa é que a gente ta aqui." E ele realmente parecia não se importar com as tardes chatas, com minha cara amassada, com os milhões de filmes e remédios. Ele simplesmente estava ali. E ele já sabia de tudo...E ele escolheu ficar... Muito obrigada amor!

Dias depois, rolou o casório e nos dias seguintes, o pós casório, porque festa de um dia só é pros fracos e naquela casa comemoração é quase uma micareta, no mínimo 3 dias.
Como se não bastasse, era Carnaval e eu completava meus 20 aninhos. Haja comemoração pra tão pouco tempo! Eu já tinha me contentado em ceder meu  dia para Mila e Breno, afinal não é todo dia que se casa.
Sendo bem sincera, eu tinha me conformado em não comemorar, mas eu ainda queria atenção... Yuri tinha dormido na minha casa e pela manhã bem cedo me deu parabéns e saiu apressado fazendo pouco caso das minhas duas décadas. Fiz biquinho, mas ele não cedeu e disse que tinha que arrumar as coisas do almoço que ia rolar na casa dele para a família. Fiquei brava, tão brava que procurei a primeira coisa possível para ocupar minha cabeça: sai com meu pai para fazer feira. (?)
No meio da saga de comprar biscoitos e frutas, vi Yuri passar de carro duas vezes. Fiquei mais brava ainda! Que tipo de almoço é esse? Itinerante?

Voltei pra casa, me arrumei e fui toda trabalhada na tipoia pro tal almoço com o bico maior do mundo. Quando entrei pela garagem, vi aquela carinha de quem ta aprontando, com um sorriso enorme..."SURPRESA!!"Churrasco, bolo, família, amigos e eu ainda levei bronca porque tentei avacalhar tudo mesmo sem saber. Rs
Quase no fim da tarde recebi um embrulho de presente de Tio Robério. Costumo dizer que nele estavam dois presentes, um pro corpo e outro pra alma. Havia duas caixinhas de Dimorf (Morfina) e uma mini bíblia. Aqueles dois presentes, mesmo que singelos, eram o que eu mais precisava no momento: analgesia e fé.


A melhor supresa de todas!

Os amores da minha vida: minha sis menorzinha, meu boy magia (rs),
 minha mamy/gêmea e o vascaíno animado, papito.

2.0! :D

Beijos, Rebecca.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Depois de dois meses sem postar, gostaria de vir aqui para contar coisas boas, continuar contando a minha história e ajudando pessoas que estão passando pelo que eu já passei, mas hoje vim aqui para me despedir.
No dia 22 de novembro fiz um pedido no Facebook, para que pessoas que estivessem em Salvador doassem sangue para ajudar um amiga querida que conheci durante o tratamento, a Carolina Portugal.
A Carol foi diagnosticada com osteossarcoma no fêmur, e aos 24 anos tinha acabado de se formar em Fisioterapia. Vou contar melhor a história dela mais pra frente, quando nossos caminhos se encontraram. Nova como eu, cursando o mesmo curso que eu, pequenininha como eu, uma mãezona como a minha, amigas maravilhosas como as minhas, pequenininha como eu, emburrada como eu, com o mesmo CA que eu... mas infelizmente nosso fim não foi o mesmo.
Começamos o tratamento na mesma época e terminamos quase na mesma época. Mas a Carol ficou dodói novamente. Ela teve recidiva do CA no pulmão e sentia muitas dores pelo corpo e voltou a fazer quimio esse ano. Ela já não estava mais confiante, chegou a falar comigo um dia que não sabia se iria ser curada e estava cada vez mais debilitada. Eu sempre tive certeza da cura dela e queria muito fazer alguma coisa para que ela voltasse a crer nisso também.
Até que duas semanas atrás recebi a notícia que ela estava bem fraquinha, precisando de sangue e que estava na semi UTI. Desde então não consegui mais falar com ela. Fizemos orações e conseguimos vários doadores de sangue através de um grupo de Haleyros que um tio meu participa e de alguns militares. Os familiares dela desativaram seu facebook e o contato ficou ainda mais difícil, só tinha notícias através de uma amiga dela, a Juliana Reis.
Ontem, ao chegar de viagem, minha mãe me disse que estava preocupada e queria notícias da Carol, vi que ela não olhava o Whatsapp há vários dias.
Hoje pela manhã, ao abrir o facebook, vi uma mensagem da Juliana que custei a acreditar, li algumas vezes e fiquei congelada. Não era possível. "Carol faleceu, o enterro será no jardim da saudade as 14 hrs! Hj dia 10/12!" Uma notícia como essa, nos faz repensar porque nós fomos agraciados com a cura e se nós realmente somos merecedores disso. A Carol era uma menina nova e cheia de planos assim como eu, não faz sentido que a luta dela tenha acabado, é difícil de acreditar. Agora que tudo passou pra mim, eu vejo o câncer como algo tão pequeno... mas as vezes ele ainda é tão cruel. Nós sempre queremos uma explicação, um motivo, um porque e eu espero que a Carolzinha não tenha se entregado, nem deixado de lutar e espero mais ainda que agora ela esteja em paz. Que o nosso Paizinho acalme o coração de tia Jô e de toda sua família. E que todo esse sofrimento dê lugar a saudade. Saudade minha amiga, vá com Deus. Luto.
Carolina Portugal


Com pesar, Rebecca.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A família do meu namorado é enorme. Daquelas bem espirituosas que reúne todo mundo no almoço do domingo, fala alto, dá muita risada e os nomes do amigo oculto do natal passam dos 50.
Imagina então como foi a comemoração do casamento do primogênito da considerada "matriarca", minha sogra.

Alguns dias antes da festa não se falava em outra coisa, a casa respirava os preparativos. Na minha casa o clima não era diferente, todo mundo ansioso para o grande dia de Mila e Breno. Provas de vestido, a escolha dos penteados e sapatos até me faziam esquecer dos meus dias dolorosos e eu tinha certeza que a comemoração ia fazer o meu confinamento virar "fichinha". Yuri continuava "morando" na minha casa, mas se ausentava com mais frequência para dar uma forcinha em casa e ensaiar a cerimônia, já que ele seria padrinho.

Nessa altura do campeonato eu já não ficava mais sem a tipoia, até para tomar banho era necessário amarrar uma gaze como suporte para o braço, mas depois de passar tanto tempo escolhendo o vestido a última coisa que eu queria era aquele "acessório" azul compondo o meu look. Passei a semana inteira pensando em alguma solução. Faltando dois dias para o casamento, a solução caiu de paraquedas... Depois de uma crise de dor, tomei uma injeção de Profenid que melhorou bastante a situação, resolvi que essa seria minha arma secreta para me livrar da tipoia.

O casamento foi planejado para ser realizado ao ar livre, num Rancho, e por isso o clima nublado dos últimos dias preocupou todo mundo.
 Ao acordar no sábado, 18 de fevereiro e ver aquele céu cinza, as orações por um solzinho começaram, ou para que pelo menos não chovesse. E a correria começou: escova cabelo, toma remédio, ajusta o vestido, bolsa de água quente, faz maquiagem, faz penteado, toma remédio, tira tipoia, segura o braço, coloca tipoia, passa base na cicatriz na biópsia para dar uma disfarçada.... e finalmente quando estava toda produzida, tomei a minha querida injeção de Profenid, aguardei alguns minutos e enfim tirar a tipoia e esticar o braço se tornou suportável.

No fim da tarde um grande alívio: céu aberto, pôr-do-sol e clima ameno. Obrigada Senhor! Entramos no carro, eu, minha mãe, meu pai,minha irmã mais nova e minha tipoia, melhor prevenir do que remediar, e seguimos a estrada que leva para o Rancho Uchôa. Senti um frio na barriga como se o dia fosse meu, ansiosa para ver a decoração, meu amor de padrinho e os noivos lindos.

A festa estava impecável. Decoração perfeita, clima maravilhoso, muitos convidados lindos e queridos, mesmo a cerimônia sendo realizada no feriado de carnaval. Abraços, cumprimentos, risinhos e ansiedade por toda parte. Volta e meia o braço dava uma fisgada e eu lembrava que alguém queria roubar a cena. Hoje não! 
Um silêncio pairou, os trompetes anunciaram a entrada da noiva. Os abraços entre sogros e noivos simbolizaram a união de uma família e foi impossível não me emocionar, alias, impossível qualquer um não se emocionar, dava pra sentir o amor de longe. Cerimônia rápida e lindíssima, acho que nunca vi um casamento tão lindo.

Lá pras tantas da noite, as comemorações começaram de fato. "A grande família" reunida, da pra imaginar né? Esqueci do meu braço egoísta só por alguns instantes e me permitir curtir aquele momento, dancei valsa com Yuri, um forró meio "capenga" com tio Gabriel, andei por todo lado, brindei, baguncei o penteado, minha mãe fez um novo improvisado, até que eu cansei e sentei no sofá ao lado do palco. Foi aí que a minha tipoia deveria ter entrado em cena.

Como eu disse a vocês, a família do meu namorado é bastante espirituosa, de abraços apertados, demorados e cheios de carinho. E no meio dessa minha reclusão dos últimos meses, eu fiquei sem ver muitos deles. Na minha pausa para descanso durante a festa, encontrei a querida tia Leide, que não sabia pelo que eu estava passando e também não poderia imaginar, afinal, eu estava em perfeito estado, nada de tipoias, nada de curativos. Foi aí eu recebi um abraço daqueles de urso, sabe? E eu acho que meu braço não é muito chegado em ursos... vai saber.

Parecia que alguma coisa tinha sido quebrada la dentro, ou o gigante adormecido foi acordado com panelas batendo em sua cabeça e ele estava muito, muito furioso! Meu braço doía tanto que eu não conseguia respirar direito... não pude nem gritar... ia deixar minha tia constrangida e ela não tinha culpa de nada. Corri a procura de alguém pra me socorrer, mas todo mundo sumiu, Yuri estava fazendo as honras da casa e eu não encontrava meus pais, me senti fraca e carente e meus olhos encheram d'água. Eu queria ir embora.

Finalmente achei minha mãe e eu queria chorar... fomos no carro e eu coloquei minha amiga tipoia. Comecei a "encher o saco" de Yuri, eu queria atenção. Mas logo depois eu parei, eu não tinha direito! Aquele era um dia importante pra ele, mas acho que eu estava triste por não poder curtir como eu gostaria. Passei o resto da noite com a tipoia e o meu braço reclamão querendo aparecer. Paciência querido, você vai ter que aguentar até o final!

Ficamos até o fim da festa, minha mãe não tirou os olhos de mim com medo que eu me machucasse novamente e quase amanhecendo viemos embora, com muitas risadas e algumas boas histórias. Meu sono com certeza não foi dos melhores, acho que meu braço quis me castigar severamente por tê-lo feito esperar tanto, mal sabia ele que a "festa" estava só começando.



Minhas princesas! Mamy e minha pequena.

Antes e depois da tipoia e meus queridos.

Noivos lindos!
Noivinhos, padrinhos e cunhadas.



Beijos, Rebecca.



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